Um dos maiores desafios do pregador é atualizar o texto bíblico para a realidade presente. É um exercício de retorno ao passado, de leitura do texto para aquele tempo e de releitura para o momento atual.
Há situações em que a tarefa é facilitada. O Salmo 46, cantado há cerca de três mil anos, parece ter sido compilado hoje. Ele fala de vulcões, terremotos, deslizamentos de terra e tsunamis. Estes fenômenos são notícias diárias. Um dia a catástrofe tem seu epicentro no Chile; outro dia no Rio de Janeiro; outro dia na Islândia. E a poeira desses acontecimentos se espalha pelo mundo e provoca um medo incontrolável sobre a possibilidade de uma catástrofe mundial definitiva. Há texto bíblico mais atual a respeito dos fenômenos da natureza?
Mas agora vem o desafio: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações”. Num tempo em que nem as delegacias de polícia são respeitadas, sabemos o que é um “refúgio”? Se nosso lar é monitorado 24 horas por dia por uma empresa de segurança, nos sentimos numa “fortaleza”? Como atualizar a linguagem simbólica do salmista ao expressar sua confiança de que em Deus não há lugar para o medo?
Há quinhentos anos Lutero atualizou esta linguagem compilando um hino que começa assim: “Castelo Forte é nosso Deus, defesa e boa espada”. Ele atualizou o termo “fortaleza” por “castelo” – lugar seguro na Idade Média – onde se refugiou quando queriam matá-lo. Hoje, nem castelo e nem espada dão uma boa idéia da proteção divina.
O desafio de atualizar as figuras de linguagem da ação bondosa de Deus em nossa vida continua em aberto. Refúgio e fortaleza são expressões que dão o aspecto defensivo e dinâmico da proteção divina. O Deus que não muda vem ao nosso encontro para nos proteger, salvar e fortalecer. Em seu Filho Jesus, ele é Deus conosco. Passará o céu e a terra, mas sua Palavra não passará.
“O Verbo eterno ficará, sabemos com certeza, e nada nos perturbará com Cristo por defesa. Se vierem roubar os bens, vida e o lar – que tudo se vá! Proveito não lhes dá. O céu é nossa herança” (do hino Castelo Forte de Lutero).
Portanto, não temeremos…
Edgar Lemke
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