Quando eu era jovem (agora já sou velho) li alguns livros de ficção policial, com excelentes detetives buscando solucionar crimes quase perfeitos. Um daqueles livros eu guardo na memória. O autor, atrapalhado, não encontrava um culpado convincente pelo delito. A solução foi culpar o mordomo. Em tom de brincadeira fala-se que o mordomo sempre é o culpado.
Somos todos mordomos e, não por coincidência, também somos “culpados” por “delitos” cometidos numa má administração do que nos foi confiado por Deus. A palavra mordomo justamente quer dizer administrador. Vem do latim: “major domus’, o superior que cuida da administração de toda a casa. Isto não é de hoje, vem lá do comecinho dos tempos. Após concluir a criação do Jardim, Deus pôs o homem nele para, cuidar dele (Gn 2.15).
No Antigo Testamento encontramos um belo exemplo, de uma boa administração, na história de José. Potifar ordena a José a tomar conta e administrar tudo o que era seu, do Faraó ( Gn 39.4) e para governar o país inteiro (Sl 105.21). Zeloso em seu trabalho, José salva um povo, também o seu povo, de grande catástrofe.
O mordomo serve – não é servido. Quanto mais tem para administrar, maior a sua responsabilidade. A parábola do mordomo infiel (Lc12.42ss) contada por Jesus conclui com uma advertência: “Muito se pedirá de quem recebe muito; e a quem muito se dá, muito mais será pedido”. A bem da verdade, tudo o que temos não é realmente nosso – foi-nos confiado por Deus e deve voltar a ele com resultados. Você até poderá pensar, ou dizer: “Derramei muito suor para ter o que tenho”. Acredito! Pois foi dito lá naquele comecinho: “Do suor do teu rosto comerás o teu pão” (Gn3.19). Mas o que conseguiste, mesmo com muito suor, é para o bem de todos e para o crescimento do Reino de Deus. A vida seria sem propósito se apenas usufruíssemos por usufruir.
Todo mordomo que se preze como tal, está sempre impecavelmente trajado. O mordomo cristão tem na carta aos efésios uma descrição detalhada de sua indumentária: “Usem a verdade como cinturão. Vistam-se com a couraça da justiça e calcem, como sapatos, o entusiasmo para anunciar a Boa-Nova. E levem sempre a fé (em Cristo) como escudo, paras poderem se proteger de todas as flechas do Diabo. Recebam a salvação como capacete e a Palavra de Deus como espada que o Espírito Santo dá a vocês. Façam tudo isso com oração pedindo a ajuda de Deus” (Ef 6.14-17).
Somos todos mordomos de Deus. Tentamos realizar bem nossas tarefas. “Feliz aquele empregado que estiver fazendo isso quando o patrão (Jesus) chegar” (Lc 12.43).
Guido Rubem Goerl – Pastor emérito da IELB
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