Kamila Almeida, numa reportagem de Zero Hora (29/04/2012), sob o título O trabalho que transforma vidas, diz que “já na época de Adão e Eva, o trabalho não era visto como algo exatamente positivo”, pois o casal bíblico foi expulso do paraíso e teve de “conquistar o pão com o suor do seu rosto”. Mas, continua a reportagem, “hoje, o mercado se abriu e se tornou muito mais do que uma fonte de renda, uma forma de tornar a vida mais prazerosa”.
Quem fez uma interpretação ainda mais positiva do trabalho foi Lutero ao falar da vocação das pessoas para os diversos tipos de trabalho. Ele entendia que “vocação” é servir os outros e nisso a espiritualidade é trazida para a nossa vida prática de cada dia. Ele costumava dizer que Deus está oculto na nossa vida diária. A rotina comum de ganhar a vida, ir ao supermercado, ser um bom cidadão, gastar tempo com a família, são esferas nas quais Deus opera, através de meios humanos. Na explicação do primeiro mandamento no Catecismo Maior ele escreve: “Pois, ainda que, de resto, muita coisa boa nos venha de homens, todavia, é receber de Deus tudo quanto se recebe por seu mandamento e ordem. As criaturas são apenas a mão, o canal e o meio através de que Deus tudo concede”.
É bom lembrar que Deus está intimamente envolvido em tudo o que existe. Deus é ativo e opera através dos meios. Se no reino espiritual ele opera através dos meios de graça (Palavra e Sacramentos), no reino terreno, ele governa por meio da vocação.
Se pedimos, no Pai Nosso, pelo pão de cada dia, então oramos pelo nosso emprego, pelo desempenho da economia do nosso País, pelo agricultor que planta o trigo, pelo caminhoneiro que o transporta, pelo moinho que faz a farinha, pelo padeiro que faz o pão, pelo comerciante que o vende. Cada parte desta cadeia alimentar econômica é uma vocação, através da qual Deus opera e distribui os seus dons.
Entender o trabalho como uma vocação ou um chamado de Deus para que esse círculo de dádivas que permite o funcionamento do mundo torna a vida mais prazerosa. Esta é a canção do Salmo 128: “Do trabalho de tuas mãos comerás, feliz serás e tudo te irá bem”.
Edgar Lemke
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