Uma casa é o lugar ideal para descansar. É lugar de sossego, abrigo e segurança. Não importa o nome que a identifique: residência, apartamento, mansão, palhoça, barraca, palafita ou iglu. É a minha casa, lugar onde resido.
O Novo Testamento menciona muitas casas, entre elas algumas visitadas por Jesus, outras onde se hospedava. Lembramos a casa de Maria e Marta, irmãs de Lazaro (Lc 10.38), onde Jesus repreende uma e elogia a outra. Na casa de Pedro (Mc 1.29) Jesus cura a sogra do discípulo. Zaqueu recebe Jesus e há salvação naquela casa (Lc 19.2). A filha de Jairo é chamada de volta à vida por Jesus na casa dela (Mc 5.35-43). Em casa de Simão, o leproso, (Mc 14.3) uma mulher derrama precioso bálsamo de Nardo puro sobre a cabeça de Jesus.
Estes detalhes logísticos do Novo Testamento mostram a importância que Jesus dava aos lares no começo do cristianismo, pois eram núcleos onde surgiam e se formavam as primeiras congregações cristãs. Ali pulsava o coração do Pai pelas palavras e gestos do Filho. Era o viver em comum na fé, na oração, as experiências religiosas, no sofrimento, nas dúvidas, nas alegrias, nos projetos e na esperança.
O apóstolo Paulo, antes de ser o grande missionário e pregador do Evangelho, era Saulo, o perseguidor dos cristãos. Ele sabia que, se quisesse prender alguém que professasse a fé em Cristo, era nas casas de família o lugar certo para encontrá-las. (At 8.3) Se dessem a Saulo o nosso endereço, hoje, ele encontraria discípulos para prender? O que faz de minha casa uma célula que, junto com outras, formaria uma congregação cristã? O que tenho para oferecer ou o que falta para que meu lar seja um núcleo onde pulsa o coração do cristianismo? Numa casa de uma família cristã vi uma ferradura pregada sobre a porta. Ali, com certeza, Saulo nem iria entrar.
Tenho muitas coisas na minha casa. Algumas úteis, outras perfeitamente dispensáveis. Compra-se muito coisa na esperança que algo fique eterno. Na casa das irmãs Jesus disse o que eu e você podemos oferecer ou o que talvez falte. “Marta, Marta, você está ocupada e atrapalhada com tantas coisas, mas apenas uma é necessária. Maria escolheu a melhor, e esta ninguém vai tirar dela.” (Lc 10.41) Nós sabemos o que é: uma Bíblia aberta e lida e uma devoção familiar – é o começo.
Assim como é a vida na minha casa e na sua casa, assim será a reunião daqueles que, em comunidade, formam a assembléia dos fiéis convocados em nome de Jesus – a Igreja. Esta é a lição que aprendemos do Evangelho no que diz respeito a minha casa.
Lares cristãos, comunidades cristãs
Guido Rubem Goerl
Pastor emérito da IELB