Na semana que passou o polêmico Chiquinho Scarpa anunciou na mídia que enterraria seu carro de 1 milhão de reais no jardim de sua casa para acompanhá-lo após a morte, como faziam os faraós. O alvoroço foi grande, e na hora do enterro, cercado de vários repórteres, Scarpa revelou: “Não sou louco, não vou enterrar meu carro. Fiz isso para chamar atenção a essa causa”. Ele se referia a doação de órgãos – campanha nacional que acontece nesta semana. E aproveitou para explicar: “Disseram que era um desperdício. Fui julgado por isso. Mas a verdade é que tem gente que enterra algo bem mais valioso, coração, rim, seus órgãos. Isso sim é um absurdo. O que poderia salvar a vida de várias pessoas. O meu Bentley não é mais valioso que isso”.
Faz 30 anos que eu sou um doador de órgãos, e a minha família precisa saber e obedecer isto. Conforme dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, de cada dez pessoas, quatro se negam a doar os órgãos de seus familiares. A doação acontece num momento de extrema dor, mas ela tem o efeito milagroso de amenizar o sofrimento com o alívio que traz a tanta gente. Cerca de 30 mil pessoas no Brasil aguardam na fila por um transplante de rim, córnea, fígado, coração e pulmão. Por que enterrar algo tão valioso quando pode salvar vidas?
Lembrei-me da Parábola dos Talentos (Mateus 25.14-30) nesta jogada de marketing com o enterro do carro, até porque Jesus não quis dizer outra coisa sobre o empregado que enterrou o dinheiro. Não temos o direito de desperdiçar a vida, ela é uma dádiva de Deus para ser repartida. Outra coisa, aquele que acredita “quando o corpo é sepultado, é um corpo mortal; mas quando for ressuscitado, será imortal” (1 Coríntios 15.43), não sofre nenhum impedimento bíblico para a doação de órgãos humanos. Ao contrário, no exemplo de Jesus que ofereceu a vida, esta pode ser última oferta num gesto de amor que nem precisa de sacrifício.
Marcos Schmidt
pastor luterano
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