Quando estamos enfermos procuramos um médico. Depois de alguns exames ele nos prescreve um remédio. A partir daí somos enfermos em processo de cura. Confiamos no médico e no remédio; temos muita esperança de sermos curados. Em nossa vida cristã acontece o mesmo – somos enfermos, herdeiros do pecado original. No nosso Batismo somos lavados da culpabilidade do pecado, mas a “fraqueza” continua em nós.
Somos declarados justos por Deus, pela fé, mas ao mesmo tempo continuamos inclinados ao pecado. Na carta aos romanos, Paulo explica bem estas duas qualidades opostas: espiritual e carnal, justo e pecador, bom e mau. “Não faço o que gostaria de fazer. Ao contrário, faço justamente aquilo que odeio.” (Rm 7.15) “Ainda que a vontade de fazer o bem esteja em mim, eu não consigo fazê-lo.” (Rm 7.18) Alguém escreveu: “Ignoramos as coisas necessárias porque aprendemos as supérfluas. Não conhecemos bem o que é salutar porque aprendemos fácil o que é condenável.” Enfermos em processo de cura.
A parábola do Bom Samaritano é um bom exemplo desse processo. O samaritano encontra alguém gravemente ferido, semimorto. Ele não o cura de imediato, mas começa a cura: derrama vinho e óleo nos ferimentos. Leva-o a um lugar seguro e promete voltar para o que for necessário. Lutero escreve: “Os santos (nós cristãos), ao mesmo tempo que são justos, são pecadores; justos porque creem em Cristo cuja justiça os reveste e lhes é imputada, mas pecadores porque não cumprem a lei e não vivem sem concupiscência, mas são como pessoas doentes sob cuidados de um médico: elas são real e verdadeiramente doentes, mas, na fase inicial da convalescência e na esperança são sadias, ou melhor, são tornadas sãs, isto é, estão em vias de ser curadas.” (OL.v8 p299)
Esse processo de cura, assistidos por um médico, Isaias bem descreve: “Desde que vocês nasceram, eu os tenho carregado (Deus falando); sempre cuidei de vocês. E, quando ficarem velhos, eu serei o mesmo Deus, cuidarei de vocês quando tiverem cabelos brancos. Eu os criei e o carregarei; eu os ajudarei e salvarei.” (Is 46.3,4)
Com certeza, estamos em processo de cura. Nossa vida cristã não está em estado de repouso, mas sim, em movimento do bom para melhor.
Guido Rubem Goerl
Pastor emérito da IELB