A revista Veja em sua capa dessa semana postou a situação triste e lamentável de um rapaz nu e preso a um poste no Rio de Janeiro por causa de ações criminosas que praticara. Minha primeira impressão, passado o choque foi: Bem feito! É isso mesmo! Talvez tenha sido esse o mesmo sentimento de muitos leitores.
No entanto fiquei mais chocado ainda quando reli estas palavras de Jesus no Sermão do Monte. Ele diz:
“Vocês ouviram o que foi dito: “olho por olho e dente por dente”. Mas eu lhes digo: não se vinguem dos que fazem mal a vocês. Se alguém lhe der um tapa na cara, vire o outro lado para ele bater também…..Vocês ouviram o que foi dito: Ame os seus amigos e odeie os seus inimigos”. Mas eu lhes digo: amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês, para que vocês se tornem filhos do Pai de vocês, que está no céu. Porque ele faz com que o sol brilhe sobre os bons e sobre os maus e dá chuvas tanto para os que fazem o bem como para os que fazem o mal.” Mateus 5.38, 39, 43, 44.
E agora? Ficamos com a satisfação do que foi feito com aquele rapaz ou com a profundidade, comprometimento e desafio das palavras de Jesus? Claro que com essas palavras Jesus não estava minimizando a violência nem concordando com ela. Muito menos a legitimando. Nem eu estou.
Mas esse pode ser o nosso grande risco. Diante de tanta violência a nossa volta o de legitimarmos atos de vingança. Dizem haver uma Lei pela qual qualquer cidadão pode até dar voz de prisão a alguém que esteja incorrendo em crime. Mas perguntamos: se no caso, a vontade era boa, de corrigir, porque não o entregaram a quem de direito?
A vingança pela vingança não nos faz melhores. Pior, nos iguala aos errados que acusamos. Se o problema é a legislação permissiva que cresce, as eleições estão ai para escolhermos novos legisladores; se a justiça é morosa, lenta e por vezes, “cega” demais, a ponto de não fazer justiça, tomar a vingança em nossas mãos não nos faz pessoas mais distintas, nos bestializa.
Jesus, no Sermão do Monte propõe uma postura ética diferenciada. Não alicerçada nos nossos sentimentos, que podem ser enganosos e nos levar a praticar ou concordar com atos de aparente “justiça”. Os ensinos de Jesus, sim, nos motivam a vivermos vida justa e piedosa neste mundo. Isto não significa acomodação diante da dura realidade de violência que nos cerca, mas a fazermos ainda mais a vontade do Pai Celeste. Na medida em que marcarmos o mundo com atitudes cristãs, certamente a prática da justiça será qualificada. E nossos legisladores e governantes serão menos omissos.
Por fim, fica a reflexão: será que fomos (sociedade) vingados por aqueles que prenderam aquele jovem naquele poste sob o pretexto de justiça? Fica minha angústia. Ou fomos violentados novamente e feitos iguais aquele infrator quando concordamos simplesmente com a punição recebida. Merecida sim, mas por quem de direito. “Olho por olho, dente por dente”, “amar os amigos”, eis uma ética que parece pequena diante do desafio de Jesus. Pensemos.
Abençoada semana.
Pr José Daniel Steimetz