A palavra impeachment tem sua raiz no termo latino pedica, que são os ferros que se prendem aos pés do prisioneiro para impedir seu movimento. E a raiz da corrupção no Brasil? Creio que vamos encontrar nas mesmas correntes de ferro. Mas com uma diferença – ferros que prendem o coração. O impedimento para a honestidade produz grilhões que atrapalham coisas fundamentais para a vida na sociedade. E por isto o Brasil sofre acorrentado nele mesmo, na cultura que ele ironicamente moldou.
O Império Romano ganhou muitas batalhas mas perdeu para a corrupção. O apóstolo Paulo, preso injustamente pelo império, sentiu na carne os efeitos da endêmica desonestidade por não molhar a mão do governador Felix, fato que a Bíblia narra: “Felix esperava que Paulo desse algum dinheiro” (Atos 24.26). Se tivesse subornado o político, teria escapado da decapitação. Mas levou a sério a prática da fé cristã, especialmente o aviso bíblico que “o suborno faz com que homens sábios e honestos fiquem cegos e deem sentenças injustas” (Dt 16.19). Por isto a ruína da própria nação política de Israel registrada no Antigo Testamento, que não atendeu o recado dos profetas que admoestaram com insistência: “Escutem, líderes e autoridades de Israel! Vocês odeiam o que é bom e torcem a justiça (…) Por causa de vocês, Jerusalém vai virar um montão de pedras” (Miqueias 3.9, 12).
Quanto tempo ainda o Brasil sobrevive? Quanto ainda ele aguenta as correntes da injustiça, desonestidade, imoralidade, violência, subornos, propinas, adulterações? Que Deus tenha misericórdia desta nação onde uma pessoa é assassinada a cada dez minutos e outras tantas morrem nas filas dos hospitais, nas rodovias esburacadas – neste país acorrentado. Ainda é tempo de pedir impeachment para a desonestidade.
Marcos Schmidt
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Pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Novo Hamburgo, RS