O estupro coletivo de uma jovem de 16 anos no Rio de Janeiro, que provocou comoção no país e no mundo, trouxe-me à lembrança uma anotação que tenho num caderno de rascunhos: “Não erra menos quem erra com muitos”. Essa expressão é atribuída a Lutero, quem sabe, para denunciar os erros que a maioria dos clérigos cometia ao defender a doutrina da salvação por mérito próprio e não pela graça de Deus pelos méritos de Cristo. No caso do estrupo coletivo ficou evidente que até pode errar mais quem erra com muitos.
Num tempo em que a ética da estatística dita o rumo do comportamento das pessoas é bom resgatar essa frase de Lutero. Pesquisas são feitas para extrair da opinião pública as linhas gerais pelas quais são canalizadas as propostas legislativas. Essa vontade de estar com a maioria também tem decidido questões muito sérias tanto no campo dos costumes, como nas definições de gênero e outros temas polêmicos. É bom estar ciente de que não erra menos quem erra com muitos.
É muito forte, não só entre os adolescentes, o argumento “todo mundo faz”. É possível a pessoa seguir o tranco da maioria e se esconder na multidão para aquelas atitudes que agradam os desejos perversos do coração e não ser descoberto. É possível ficar no anonimato quando se parte para a violência e quebradeira nas manifestações populares. Mas não erra menos quem erra com muitos, como não erraram menos aqueles que com muitos gritaram “crucifica-o!” quando Pilatos julgava Jesus. Não diminui um milímetro a culpa individual da sentença que pesa sobre a humanidade: “Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23).
Mas Jesus olhou para o indivíduo com todos os seus erros quando com sua morte e ressurreição reconciliou o mundo com Deus (2 Co 5.19), assim que nenhuma condenação há para aquele que está em Cristo Jesus (Rm 8.1). Ficamos livres para acertar nem que seja com a minoria. Aí está o desafio: “Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês. Assim vocês conhecerão a vontade de Deus, isto é, aquilo que é bom, perfeito e agradável a ele” (Rm 12.2).
Edgar Lemke