Dia desses convidei o pastor Martinho Lutero para colaborar com uma devoção familiar e foi um sucesso. Agora, na semana do 499º aniversário da Reforma, não resisti à tentação de convidá-lo novamente. Ele prontamente atendeu e, de cara, sugeriu uma pequena reflexão para mostrar a importância da fé não só na questão religiosa como nos relacionamentos humanos e na particularidade da vida. Olha só o que ele escreveu tendo como base Romanos 14.23: “Tudo o que não provém de fé é pecado”.
Aqui o apóstolo fala de maneira genérica sobre a fé; e, no entanto, precisamente ao falar assim ele faz alusão àquela fé singular em Cristo, fora da qual não há justiça, mas somente pecado. Tal fé, porém, é a fé em Deus, a fé no próximo e a fé em si mesmo.
Pela fé em Deus alguém se torna justo, porque ele o reconhece como verdadeiro Deus no qual ele crê e confia. E por meio da fé em seu próximo, alguém é considerado fiel, verdadeiro e digno de confiança; ele tornou-se para o seu próximo aquilo que Deus se tornou para ele próprio. E esta fé no próximo também é chamada de fé ativa; é através dela que ele confia no próximo. A natureza desta fé é que, se alguém age de modo diferente daquilo que crê, ou se duvida do seu próximo, ele se torna culpado diante dele, visto que não faz por ele aquilo que lhe prometeu, da mesma forma como peca contra Deus quando suas ações diferem daquilo que lhe foi dito e daquilo que ele crê. Também assim ele crê em si mesmo e nos ditames de sua consciência e, agindo ela, já está a agir de maneira diferente daquilo que crê, logo, contrariamente a sua fé. Assim, “tudo o que não provém da fé é pecado”, dado que é contrário à fé e à consciência; é preciso, pois, acautelar-se com grande empenho de tudo aquilo, para que não se aja contra a consciência.
Martinho Lutero
( Bíblia Sagrada com reflexões de Lutero, pg 1068, citando OS 8,328)