“Ao final de 2014 resolvi disputar as eleições de 2018. Para tanto, comecei a andar pelo Brasil. E adotei uma bandeira, que é uma passagem bíblica. João 8:32: ‘E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará'”, afirma Bolsonaro na sua campanha como candidato a presidente do Brasil. Ele garante que essa bandeira teve uma aceitação incrível porque o povo não aguenta mais mentira.
Não duvido que essa bandeira esteja ajudando o candidato a angariar votos, mas tenho razões para achar que essa verdade bíblica, expressa por Jesus numa conversa com os fariseus, provoque sérios prejuízos do ponto de vista teológico. Afinal, a campanha presidencial está se realizando através do Whatsapp e ambos os candidatos acusam o adversário de divulgar informações falsas que são desmentidas pelo próprio Whatsapp. Segundo a Folha de S. Paulo, o esquema envolvendo o aplicativo começa com grandes empresas que compram pacotes milionários (12 milhões de Reais) para disparos de mensagens em massa denegrindo o adversário com as tais fake News. A mentira, para dar credibilidade, tem que ter cara de verdade. Por isso uma afirmação fora de contexto faz grande estrago e se presta aos propósitos do “pai da mentira” (Jo 8.44) que é enganar.
Se a mentira (pseudós) é ocultação, a verdade (aléteia) é des/ocultação. Jesus é a revelação divina, pois Deus se deixa reconhecer na sua humanidade, na cruz. Ele escolhe esse caminho – morte e todas as coisas que aconteceram a Cristo – para ser reconhecido como o Deus de amor que se “tornou carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.14). Assim, questionado pelo político Pilatos por ocasião do seu julgamento, Jesus afirma: “O meu reino não é deste mundo…Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz” (Jo 18.36,37).
Enfim, a mentira até nas questões políticas e nas campanhas eleitorais se presta para escravizar e o compartilhamento de fake News mostra essa força. Por isso é muito bom que a verdade se desoculte a tempo de os eleitores fazerem sua escolha. Entretanto, essa bandeira acima referida só deixa de trazer risco teológico se estiver ligada ao que Jesus disse um pouco antes de proferi-la: “Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos” (Jo 8.31) “e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” Quando as palavras de Cristo “permanecem” em nós, elas tomam conta dos nossos pensamentos e ações, e nos tornam livres para servir.
Edgar Lemke