A revelação de que a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, monitora milhões de dados telefônicos e de internet mundo afora assustou os governantes da América do Sul, principalmente, quando virou notícia que a espionagem americana se alastrou por boa parte da América Latina. Em vista disso, a cúpula do Mercosul que se reúne nessa semana em Montevideo colocou na mesa de discussão a espionagem como tema principal. A presidente Dilma reagiu ao episódio dizendo que as escutas violam os direitos humanos e a soberania dos países e prometeu levar o caso à ONU.
A espionagem é arte antiga que se atualizou com os recursos da moderna tecnologia. O técnico em computação Edward Snowden, que trabalhava na NSA, deu com a língua nos dentes e revelou que os Estados Unidos incrementaram a espionagem desde o 11 de setembro de 2001, defendendo essa atitude em nome da “segurança nacional”.
A espionagem pode ser analisada sob alguns aspectos. Vou arriscar um parágrafo do ângulo do espião e outro da perspectiva do espiado.
Quem ilustra biblicamente a espionagem do ângulo do espião são aqueles emissários liderados por Josué, que foram enviados por Moisés para fazer um levantamento do povo de Jericó, de seu exército, sua cidade, suas estruturas de segurança. Esses espiões relataram diante dos filhos de Israel: “a terra pelo meio da qual passamos a espiar é terra que devora os seus moradores; e todo o povo que vimos nela são homens de grande estatura” (Nm 13.32). Seu levantamento foi fundamental para a tomada de Jericó pelo povo de Israel. (Nm 14.6,7). A espionagem é arma poderosa para descobrir os segredos da concorrência, analisar suas vulnerabilidades, vencer o inimigo.
Mas da perspectiva do espiado a análise é diferente. Quem sentiu isso na carne foi o apóstolo Paulo em determinado momento de seu ministério, quando queriam questioná-lo a respeito da liberdade cristã. “Porém alguns tinham se juntado ao nosso grupo, fazendo de conta que eram irmãos na fé. Eram homens que tinham entrado para o grupo como espiões a fim de espiar a liberdade que temos por estarmos unidos com Cristo Jesus e para nos tornar escravos de novo” Gl 2.4). Esse é o grande nó da espionagem: violar a privacidade das pessoas e interferir na sua liberdade, escravizar.
Enfim, há muita tecnologia para a espionagem: câmeras, canetas, relógios, detectores de metal, escutas telefônicas. São instrumentos úteis para descobrir esquemas de corrupção, desvendar crimes e colocar criminosos na cadeia. Mas para quem leva vida honesta é muito desagradável ter o telefone grampeado e a vida monitorada. Nossa vida, em Cristo, é um livro aberto. A liberdade que o Salvador nos deu não pode ser tirada por nenhum esquema de espionagem.
Edgar Lemke