Certa vez perguntaram a um pregador itinerante o que mais o atrapalhou nas muitas andanças missionárias, e ele respondeu: “As pedrinhas nas sandálias.” Penso como Jesus e os discípulos, também os apóstolos e outros pregadores, enfrentaram as pedrinhas nas sandálias naquelas primitivas estradas. Com certeza algumas vezes sentaram à beira da estrada nalguma pedra maior, ou recostaram numa árvore para tirar as pedrinhas das sandálias. Múltiplas jornadas com ferimentos nós pés, porém, jornadas vitoriosas. Lucas nos dá conta que “a igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo crescia em número.” (At 9.31)
Crescer e edificar-se no caminho e no temor do Senhor, mesmo com pedrinhas nas sandálias. Quais estes caminhos e quais as pedrinhas? A Bíblia nos fala de dois caminhos. Ela os chama de “caminho largo” e “caminho estreito”. (Mt 7.13,14) O caminho largo quase não tem pedrinhas, é liso, asfaltado. Suas margens oferecem mil e uma atrações, sem problemas, tudo tem solução, prosperidade prometida, futuro promissor. “Descansa, come, bebe e regala-te.” (Lc 12.19) Aqui cada um quer continuar ser “ele mesmo”, o que é impossível, pois “não se colhem figos de abrolhos”. (Mt 7.16) É onde encontramos cegos guiando outros cegos. (Mt 15.14) Caminho trilhado na autoconfiança baseada no “eu posso”, “eu quero”.
O outro caminho é o assim chamado “estreito”. Não é liso, tem pedras e pedrinhas. Não oferece prazeres efêmeros, nem tudo tem solução e o futuro aparentemente sombrio. “Através de muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus”. (At 14.22) Por quê? Porque fui quem poluiu e ainda continuo poluindo aquele jardim. Fui eu mesmo que espalhei as pedrinhas no caminho. Fui eu quem pecou e ainda peco. Mas, pela infinita graça e amor divinos, encontramos às margens deste caminho estreito, advertências para evitar desvios, atalhos perigosos, desprezados por muitos, mas observados por alguns (Mt 22.14). É a palavra de conforto e poder que nos diz que Ele estará sempre conosco – todos os dias (Mt 28.20), mesmo com pedrinhas nas sandálias. “O Senhor é a minha rocha, a minha cidadela, o meu libertador; o meu Deus, o meu rochedo em quem me refugio.” (Sl 18.2) Neste caminho, o “quanto menos eu” maior a chance de uma jornada bem sucedida. “O quanto menos eu” quer dizer confiar naquele que me instruirá no caminho (Sl 25.12), aquele que por mim já trilhou caminhos amargos. Embora inocente, sofreu bofetadas, açoites, vergonha e crucificação por mim – Jesus Cristo, meu salvador. É a pedra angular que os falsos construtores rejeitaram, pois para eles era escândalo e loucura (Mt 21.42), porém salvação para o que crê, confia e pauta o seu cristianismo no exemplo dele.
Apesar das pedrinhas, pela fé em Jesus, “somos da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Jesus Cristo, a pedra angular; no qual todo edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor.” (Ef 19.22)
“Sobre mim vieram tribulações e angústia, todavia, os teus mandamentos são o meu prazer. Eterna é a justiça dos teus testemunhos; dá-me a inteligência deles, e viverei” (Sl 119.143,144).
Guido Ruben Goerl – Pastor emérito da IELB