A nuvem de gafanhotos na fronteira da Argentina com o Brasil está sendo chamada de “praga bíblica”. E não é por menos, afinal, quando estes insetos aparecem no texto sagrado, quase sempre vêm acompanhados por outro temor: o juízo de Deus. Mas, aqueles que conhecem a “graça bíblica”, descobrem que os gafanhotos podem virar em bênção no lugar de praga. Foi isto, ao menos, que aconteceu com João Batista no deserto, lugar onde podia morrer de fome. Exímio conhecedor das leis sanitárias prescritas no Antigo Testamento, o profeta que preparou o caminho de Jesus, também arranjou outro alimento: “Poderão comer toda a espécie de gafanhotos e grilos” (Levítico 11.22).
Dizem que no futuro quando faltar comida no planeta, os insetos serão a salvação. Fico, então, imaginando esta notícia do temido enxame na fronteira, e todos torcendo para que a nuvem de comida entre no seu território. Mas, e porque não aproveitar esta bênção agora? No lugar de “gafanhotos” com motor espalhando agrotóxico e contaminando o meio ambiente, fazer uma colheita da “iguaria”?
É evidente que a sugestão é muito estranha, sobretudo na nossa cultura. Assim como soa esquisito dizer que pragas, calamidades e sombrias nuvens de problemas podem virar bênçãos em nossa vida. Mas, ao Jesus dizer que não só de pão vive o ser humano (ou de insetos), mas de toda a palavra que vem de Deus (Mateus 4.4), é bom saber que os castigos divinos na Bíblia, e fora da Bíblia, sempre têm função pedagógica. “Será que existe algum filho que nunca foi corrigido pelo pai?” (Hebreus 12.7), pergunta o texto sagrado. A resposta está no verso anterior: “O Senhor corrige quem ele ama e castiga quem ele aceita como filho”.
Por isto, se está provado que quanto mais agrotóxico nas lavouras, mais pragas aparecem, seria oportuno refletir sobre os venenos que jogamos contra as pragas da vida. Dependendo a maneira como lidamos com os problemas, os efeitos colaterais são ainda mais danosos do que a própria moléstia. E se os gafanhotos são o assunto do momento, mais oportuno rever nosso entendimento sobre o que é praga e o que é bênção na Bíblia. Até porque, se do limão azedo se faz uma doce limonada, estes temidos insetos podem virar uma interessante “gafanhotada”.
Marcos Schmidt
Pastor Luterano em Novo Hamburgo
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